Revista / ano 01 N.01
Apresentação
A
revista Léxico de arquitetura e urbanismo e micropolítica, possui o
objetivo de construir um platô coletivo com a contribuição de inúmeros parceiros.
Cada escritor irá tensionar/escrever sobre um conceito que ele trabalha, que
lhe é íntimo. Com a inserção de vários trabalhos teceremos um plano coletivo, construindo
uma espécie de glossário.
Para esse
primeiro número resolvemos apresentar o tensionamento da própria palavra “conceito”.
Sistemas estruturais complexos criando uma forma
similar ao plano conceitual [imanência].
Os
mandamentos do professor não são exteriores nem se acrescentam ao que ele nos
ensina. Não provêm de significações primeiras, não são a consequência de
informações: a ordem se apóia sempre, e desde o início, em ordens [...]. A
unidade elementar da linguagem - o enunciado - é a palavra de ordem. Mais do
que o senso comum, faculdade que centralizaria as informações, é preciso
definir uma faculdade abominável que consiste em emitir, receber e transmitir
as palavras de ordem. A linguagem não é mesmo feita para que se acredite
nela, mas para obedecer e fazer obedecer. [DELEUZE; GUATTARI, 1992, p.11]
O
conceito é como um saco vazio, uma forma ou um recipiente que pode-se encher
de várias opiniões. O compromisso do conceito não é injetar informação
[doxa]. Para Deleuze e Guattari, o conceito será o centro da filosofia,
portanto para eles filosofar é criar conceitos, e dar forma às singularidades
e à multiplicidade, sem consolidá-las. Logo, filosofar é criar, inventar e
resistir. Dando consistência aos conceitos. Que por sua vez se moldam em
novas formas com o tempo.
Os
conceitos não são nunca uma proposição, nunca é uma intenção. Uma proposição
é da ordem do real, ela estabelece ligações de referência entre os corpos no
espaço. Os conceitos são coordenadas espaço-temporais, e são sucessivas
operações de enquadramento, limitações, que definem a discursividade no
sistema extensivo. O conceito não é intenção, mas é povoado de intensidades.
Os
conceitos são centros de vibrações, cada um em si mesmo e uns em relação aos
outros. É por isso que tudo ressoa, em lugar de se seguir ou de se
corresponder. Não há nenhuma razão para que os conceitos se sigam. Os
conceitos, como totalidades fragmentárias, não são sequer os pedaços de um
quebra-cabeça, pois seus contornos irregulares não se correspondem. [DELEUZE; GUATTARI, 1992,
p.35]
Quando
se conversa ou se discute sobre algo é comum que surjam confusões acerca de
valores adotados e defendidos por cada indivíduo, pois cada indivíduo é
constituído por um processo único, e ao confrontar com os outros, emergem-se
discordâncias, concordâncias, e mal entendidos. Essa ambiguidade é intrínseca
à comunicação, pois cada pessoa constrói o seu mundo, e este mundo é único no
seu próprio contexto. Segundo Gilles Deleuze e Félix Guattari “o mínimo que
se pode dizer sobre as discussões é que elas nunca falam da mesma coisa”. Em
contrapartida às discussões, o que interessa é a criação, a criação de
conceitos para um determinado problema.
As
proposições urbanísticas e arquitetônicas estão vinculadas a esses conceitos,
e eles foram sedimentando-se ao longo do tempo. Dos modelos do Movimento
Moderno, que reverberaram no modernismo, ao modelo de Planejamento Estratégico
de Borja, que suscitaram nas estratégias de formação das cidades globais. O
percurso do conceituar ao fazer se atualiza de diversas formas e de diversas
maneiras. Verifica-se então que o discurso pode gerar uma infinidade de
repercussões, desdobramentos, e muitas vezes destoam das intenções iniciais
do filósofo. Tais dissonâncias são inevitáveis, pois é impossível agir de
forma que contemple todas as expectativas ou se iguale às mesmas situações de
um conceito criado.
O
conceito é o contorno, a configuração, a constelação de um acontecimento por
vir. Os conceitos, neste sentido, pertencem de pleno direito à filosofia,
porque é ela que os cria, e não cessa de criá-los. O conceito é evidentemente
conhecimento, mas conhecimento de si, e o que ele conhece é o puro
acontecimento, que não se confunde com o estado de coisas no qual ele se
encarna”. [DELEUZE; GUATTARI, 1992, p. 42].
Autor do Verbete: Lutero Proscholdt
REFERÊNCIAS
DELEUZE,
Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? Tradução de
Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.
Glossário em ordem alfabética
A
ARTES DE GOVERNAR - A GOVERNAMENTALIDADE DE
MICHAEL FOUCAULT
Autora do verbete: Cristina Bosi
B
BIOPOLÍTICA: O EXERCÍCIO DO PODER SOBRE A VIDA
Autora do verbete: Jéssica
Fernandes Giacomin
C
CORPO-CIDADE
Autor do verbete: Fernando
Mathias
CORPOS DÓCEIS E O EXERCÍCIO DE DOMINAÇÃO NA IDADE
MODERNA
Autora do verbete: Marina Coelho
de Souza
CONCEITO - O QUE É UM CONCEITO?
Autor do Verbete: Lutero
Proscholdt
D
SOCIEDADE DO DESEMPENHO
Autor do verbete: João Vitor
Erlacher de Figueiredo
F
Autor do Verbete: Mário Victor Marques Margotto
Expediente
Periodicidade: Anualmente fachamos a
edição para publicar, mas a chamada para novos trabalhos é de fluxo contínuo.
Normas de publicação:
Chamada: A revista pretende construir
um plano incessante, ao qual esses conceitos estariam sempre atualizados. A
chamada será aberta com temática livre. Cada escritor/pesquisador deve
escolher um conceito e através de um fichamento ordenar as falas sobre ele,
fazendo as conexões nas citações. Criando e construindo o seu próprio plano
conceitual.
Template: Texto
Calibri, 2 páginas, A4, formatação: ABNT autor-data.
Enviar para o e-mail:
lutero.almeida@ufes.br
Corpo editorial:
Lutero Proscholdt Almeida (UFES)
Clara Luiza Miranda (UFES)
Mário Victor
Marques Margotto (UFES)
Gabriela Leandro Pereira (Gaia) (UFBA)
Gabriel Teixeira Ramos (UFG)
Leonardo Izoton Braga (UFMG)
Osnildo Adão Wan-Dall Junior (IFBA)
Revista Léxico
Responsável corporativo: Lutero Proscholdt Almeida
CEMUNI III - Núcleo de Arquitetura e Urbanismo (NAU)
Av. Fernando Ferrari, 514 - Goiabeiras, Vitória - ES - Brasil| CEP
29075-910
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