Labirinto: O perder-se.
Adamciak Milan,1969, Labirinto.
Perdi-me
dentro de mim
porque eu
era labirinto,
e hoje,
quando me sinto,
é com
saudades de mim. [...]
[Mário Sá
Carneiro, In Dispersão]
O labirinto é um emaranhado de possibilidades,
no qual é possível perder-se. Seja no sentido arquitetural, com os labirintos
formados a partir do traçado de ruas, caminhos, jardins ou corredores; mas
também, atinge o significado do estado labiríntico no indivíduo, o estado de
vertigem. O ouvido é composto por cavidades internas sinuosas que formam o
labirinto, o qual é responsável pelo nosso eixo de orientação, de equilíbrio.
.
[...] A
orelha é labiríntica, a orelha é o labirinto do devir ou o emaranhamento da
afirmação. O labirinto é o que nos leva ao ser, só existe o ser do devir, só
existe o ser do próprio labirinto. [JACQUES, 2001, p.85]
Os devires são orientações, entradas e saídas. O
labirinto é o meio, o percurso, a repetição diferente dos caminhos. Segundo
Deleuze, “o labirinto não é mais o caminho onde a pessoa se perde, é o caminho
que retorna”. O retorno sempre diferente é o que atribui o seu mistério. Na
mitologia grega, Dédalo é o arquiteto que projeta o Labirinto de Cnossos, com a
função de prender um monstro, o Minotauro. Mas o projeto em si desvenda o
inesperado, e a revelação do segredo do labirinto acaba com o seu enigma. Para
Teseu, destinado a matar o Minotauro, o projeto em mãos e a condução pelo fio
de Ariadne, é a segurança do retorno previsível.
[...]
Conhecer um labirinto exige nele penetrar, nele se perder para conhecer as
armadilhas do caminho. Em cada escolha, a dúvida: “Pode ser que sim, pode ser
que não. Jamais sabemos se estamos no bom caminho; na realidade, não há bom
caminho. A incerteza do caminho é intrínseca ao labirinto. O percurso é o
próprio labirinto.
[...] É a
vontade de sair do labirinto que faz a pessoa se perder.
[...]
Vagando ao acaso, a dúvida desaparece. São os que duvidam os que se perdem. [JACQUES, 2001, p. 86]
Autora: Roberta C. Bettcher
REFERÊNCIAS
JACQUES, Paola. Estética da Ginga. Rio de
Janeiro, Casa da Palavra, 2001.