Virtual. E se você fosse uma simulação?

Questione a Realidade - Capa do Filme “13º andar” [1999]

Virtualidade. Atualidade. Realidade. Possibilidade. Conceitos que o filósofo Pierre Lévy utiliza ao longo de seu livro “O que é o Virtual”, para exprimir o conceito da palavra. Assim define: “O virtual é um processo de transformação de um modo de ser num outro”.

A palavra virtual vem do latim medieval virtualis, derivado por sua vez de virtus, força, potência. [...], o virtual é algo que existe em potência e não em ato. Algo virtual tende a se atualizar através do tempo. [...] Em termos rigorosamente filosóficos, o virtual não se opõe ao real, mas ao atual: virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras de ser diferentes.  [LEVY, 2011]

O conceito de “virtual” seria ausência de existência, como um real sem materialidade, que não é concreto. Ou conforme Gilles Deleuze, é um real fantasmático. Difere da atualidade e não da realidade. A virtualidade então seria, nada mais, que a desterritorialização de uma entidade, um desprendimento do aqui e agora, que altera a concepção de espaço e tempo.

Nessa “onda” de virtualização em que o mundo se encontra, perde-se os limites entre o que é público e privado, e se adquire a transição entre interior ao exterior, e exterior ao interior – Efeito Moebius. No virtual, os lugares e tempo se misturam e dão abertura ao questionamento: O que de fato é real? E se não formos o que pensamos ser?

“Penso, logo existo.” frase de René Descartes, vem discutir a existência humana e do mundo. Ora, se para este filósofo e matemático, a única certeza que ele tinha era de suas dúvidas; esta era a afirmação de sua realidade. Essa frase inicia toda a reflexão do filme “13º andar” [1999] em torno da realidade virtual, que leva o espectador a se questionar se há uma realidade única ou se há um outro universo superior. Seria o momento dessa reflexão? E se todos fossem simulações, carregados de códigos de programação? Quem seria nosso "criador"? Seria essa nossa realidade virtual, ou nossa virtualidade real?

Os habitantes são projetados para acreditar que vivem em mundo real – e o fazem a tal ponto que acabam eles mesmos simulando modelos de mundo sob seu controle. Estes outros mundos simulados pelos seres virtuais também estão habitados por indivíduos que, como eles, acreditam viver em um mundo real. A interação conflituosa entre os supostos criadores e as supostas criaturas, bem como a expansão e a multiplicação fractal do sistema, leva Douglas Hall a começar a duvidar da veracidade da sua própria realidade – o que dá ao leitor do romance a incômoda sensação de alguém lhe dizendo que a sua própria realidade pode não ser tão real assim, que a sua realidade pode ser um produto ou um subproduto de outra realidade, de outro universo acima e à volta dele.” [BERNARDO, 2010, p.252]  

Assim como acredita Lévy, e ao final de seu livro nos convence disso, é certo dizer que a velocidade do mundo e a cultura atual são reféns da virtualidade, como sendo um processo irreversível do percurso da vida humana. Virtual, a palavra mais real do nosso atual.

Autora do Verbete: Joana Segatto Scabelo

REFERÊNCIAS 
BERNARDO, Gustavo. O livro da metaficção. Rio de Janeiro: Tinta Negra, 2010.
DELEUZE, Gilles. O atual e o virtual. Disponível em: 
https://antropologiassociativa.files.wordpress.com/2010/06/deleuze_1996_o-atual-e-o-virtual_bookchapt.pdf. Acessado em 14 julho 2019. 
GALVÃO, C. L. Os sentidos do termo virtual em Pierre Lévy. Revista Logeion (Filosofia da informação), Rio de Janeiro, 2016. 
LÉVY, Pierre. O que é o virtual? 2 ed. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 2011.

Postagens mais visitadas